Microfat e Nanofat: Entenda as Diferenças, Indicações e Benefícios da Gordura Autóloga em Cirurgia Plástica e Medicina Regenerativa

Introdução

A gordura humana deixou de ser apenas um “tecido de reserva” para se tornar um dos materiais mais valiosos da cirurgia plástica e da medicina regenerativa. Com o avanço das técnicas de processamento e compreensão científica, produtos como microfat e nanofat passaram a ocupar um papel central em protocolos de rejuvenescimento e reparo tecidual.

Ambos são derivados do tecido adiposo autólogo, ou seja, extraído do próprio paciente por lipoaspiração. No entanto, diferem profundamente em sua composição celular, propriedades clínicas e indicações terapêuticas.

O que é Microfat?

O microfat é obtido por meio de uma lipoaspiração delicada com cânulas de pequeno calibre, seguida de processos mecânicos simples como lavagem e decantação. Esse processamento mantém adipócitos viáveis, estruturas vasculares e matriz extracelular parcialmente preservada.

Trata-se de um enxerto de gordura com potencial de preenchimento volumétrico, usado para restaurar contornos, tratar sulcos profundos e corrigir assimetrias. Pode ser aplicado em regiões como:

  • Sulcos nasogenianos

  • Região malar

  • Têmporas

  • Lábios

  • Mãos

Sua aplicação é feita com cânulas finas, permitindo um resultado mais natural e uniforme que o enxerto de macrofat (gordura bruta).

O que é Nanofat?

Já o nanofat passa por um processamento mais intenso. Após a extração e separação inicial (microfat), a gordura é submetida à emulsificação mecânica vigorosa (passagens repetidas entre seringas conectadas) e posterior filtragem. Esse processo destrói os adipócitos, mas preserva a fração estromal vascular (SVF) — que é rica em:

  • Células-tronco derivadas do tecido adiposo (ADSCs)

  • Fragmentos microvasculares

  • Fatores de crescimento e citocinas

  • Mediadores anti-inflamatórios e antifibróticos

O resultado é uma suspensão líquida, livre de células adiposas maduras, mas extremamente rica em componentes regenerativos. O nanofat não preenche, mas bioestimula.

Principais Indicações do Microfat

  • Preenchimento facial de média profundidade

  • Restauração volumétrica pós-trauma ou envelhecimento

  • Contorno mandibular, zigomático ou temporal

  • Correção de sulcos profundos e assimetrias faciais

  • Melhora da espessura dérmica em áreas atróficas

A vantagem do microfat está na sua capacidade de integrar-se ao tecido receptor e oferecer resultado duradouro, especialmente quando associado a protocolos regenerativos com laser ou radiofrequência.

Principais Indicações do Nanofat

  • Rejuvenescimento da pele fina (região periorbitária, pálpebras inferiores, pescoço)

  • Melhora de cicatrizes atróficas e hipertróficas

  • Tratamento de rugas finas, especialmente em torno dos olhos e lábios

  • Bioestimulação cutânea em peles fotodanificadas

  • Terapia complementar para alopecia (queda de cabelo)

  • Tratamento de feridas crônicas e queimaduras

Por ser injetado em camadas mais superficiais da pele, o nanofat atua como um fluido rico em células regenerativas, capaz de induzir neoangiogênese, síntese de colágeno e melhora global da textura cutânea.

O que dizem os estudos científicos

Pesquisas recentes têm validado os efeitos distintos e complementares dessas técnicas:

  • Grünherz et al. (2024) realizaram uma análise lipidômica comparando microfat e nanofat, revelando que o nanofat apresenta maior concentração de mediadores anti-inflamatórios e fatores regenerativos, como prostaciclina e ácidos cumáricos.

  • Tonnard et al. (2013) demonstraram que, embora o nanofat não contenha adipócitos viáveis, ele mantém células-tronco capazes de se diferenciar e promover melhora significativa da pele após 6 meses.

  • Ding et al. (2022) reforçaram a eficácia do nanofat na regeneração de tecidos complexos, como pele danificada por queimaduras ou exposição solar.

  • Sanchez-Macedo et al. (2022) demonstraram que a emulsificação do nanofat altera seu proteoma, potencializando vias relacionadas à cicatrização, resposta inflamatória e regeneração da matriz extracelular.

Diferenças moleculares: além do que se vê

Do ponto de vista bioquímico, microfat e nanofat não são apenas variações físicas da mesma substância. Estudos como os de Grünherz e Sanchez-Macedo comprovam que:

  • O microfat é mais rico em esfingosinas, eicosanoides e vitaminas lipossolúveis — o que o torna ideal para reposição tecidual.

  • O nanofat, em contraste, possui perfil anti-inflamatório, antifibrótico e antioxidante, com maior concentração de mediadores de reparo.

Essa diferença torna possível usar ambos de maneira complementar: o microfat para estruturar, e o nanofat para reprogramar e regenerar o tecido.

Qual a técnica mais indicada?

Não há uma resposta única. A escolha entre microfat e nanofat depende de três fatores:

  1. Objetivo clínico: volumização ou regeneração

  2. Anatomia e condição da pele do paciente

  3. Composição desejada para o protocolo (puro, combinado, enriquecido)

Na prática, é comum associar os dois: por exemplo, usar microfat para preencher o sulco nasogeniano e nanofat ao redor dos olhos para melhorar a qualidade da pele e suavizar linhas finas.

Segurança e durabilidade

Ambas as técnicas são consideradas seguras, quando realizadas por médicos com experiência em cirurgia plástica e procedimentos regenerativos. Como se trata de material autólogo, os riscos de rejeição ou reações imunológicas são mínimos.

A durabilidade depende de múltiplos fatores, como vascularização da área receptora, técnica de enxertia e estilo de vida do paciente. Em geral:

  • O microfat pode ter sobrevida de 40% a 70% dos adipócitos transplantados.

  • O nanofat, por não depender de adipócitos, tem efeito clínico baseado na ativação de processos biológicos locais, cuja melhora é visível a partir de 30 dias e se estende por até 6 a 12 meses.

Conclusão

A distinção entre microfat e nanofat representa mais do que uma evolução técnica. Ela reflete um novo paradigma na cirurgia plástica — o da medicina regenerativa integrada à estética funcional.

Enquanto o microfat preenche com estrutura, o nanofat transforma a pele por dentro. Ambos atuam de forma complementar e, quando aplicados com critério, promovem resultados duradouros, seguros e com aparência natural.

A avaliação médica é o primeiro passo para indicar a melhor estratégia, respeitando a anatomia e os objetivos de cada paciente.

Sobre a Dra. Ana Carolina Chociai

Médica cirurgiã plástica e mestre em Cirurgia pela UFPR, a Dra. Ana Carolina Chociai é referência nacional em técnicas regenerativas com gordura autóloga. Sua dissertação de mestrado foi dedicada ao estudo do potencial bioestimulador da gordura, base científica que sustenta tratamentos como o nanofat grafting, realizados há mais de uma década em sua clínica.

Com 15 anos de experiência, é pioneira no Brasil na aplicação de tecnologias combinadas de laser e gordura, com foco em estética natural, rejuvenescimento funcional e longevidade saudável. É a idealizadora dos protocolos médicos Fotona Eyelift (voltado à sustentação e revitalização da região periorbitária) e Fotona EndoTight, uma técnica de endolifting facial com laser voltada à retração de fáscia e melhoria da firmeza dos tecidos.

É membro especialista e membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, com formações complementares em centros internacionais de referência, como as Universidades de Miami e Columbia-NY. Atua como palestrante internacional, consultora científica da Laser and Health Academy e colaboradora no desenvolvimento e validação de tecnologias médicas.

Na Clínica Chociai, lidera uma equipe multidisciplinar comprometida com a excelência técnica e o cuidado individualizado, oferecendo tratamentos que unem ciência, estética e respeito à singularidade de cada paciente.

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Referências:

  1. Grünherz L, Kollarik S, Sanchez-Macedo N, McLuckie M, Lindenblatt N. Lipidomic Analysis of Microfat and Nanofat Reveals Different Lipid Mediator Compositions. Plast Reconstr Surg. 2024;154(5):895e-905e.

  2. Tonnard P, Verpaele A, Peeters G, et al. Nanofat Grafting: Basic Research and Clinical Applications. Plast Reconstr Surg. 2013;132(4):1017-1026.

  3. Ding P, Lu E, Li G, et al. Research Progress on Preparation, Mechanism, and Clinical Application of Nanofat. J Burn Care Res. 2022;43(5):1140-1144.

  4. La Padula S, Ponzo M, Lombardi M, et al. Nanofat in Plastic Reconstructive, Regenerative, and Aesthetic Surgery. J Clin Med. 2023;12(13):4351.

  5. Quintero Sierra LA, Biswas R, Conti A, et al. Highly Pluripotent Adipose-Derived Stem Cell-Enriched Nanofat. Cell Transplant. 2023;32:9636897231175968.

  6. Sanchez-Macedo N, McLuckie M, Grünherz L, Lindenblatt N. Protein Profiling of Mechanically Processed Lipoaspirates. Plast Reconstr Surg. 2022;150(2):341e-354e.

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